"Mas amor, você sabe, amor não se pede. Amor se declara: sabe de uma coisa?
Ele sabe, ele sabe." /Tati Bernardi/
Eu só quero um amor-amorzinho, caminhar de mãos dadas pela orla e ver fumaça saindo da cabecinha das meninas se perguntando ‘o que será que ela tem de especial?’. Ter com quem ver o pôr-do-sol nas tardes de quinta-feira. E aquela pergunta ‘será que sou exigente?’ fica martelando na minha cabeça. Será que querer ter alguém que ligue para saber como estou que venha me buscar no trabalho sem avisar, que me mande flores ou compre aquele chocolate que sabe que eu adoro, que reclame que minha saia ou meu vestido está curto demais (embora não troque de roupa), mas alguém que tenha ciúmes de mim de vez em quando, que me leve ao cinema, que compre o remédio se eu estiver doente, alguém que seja o remédio, que diga que me ama, será que isso é ser exigente? Estou querendo demais? Tudo bem se não comprar flores ou se não tiver ciúmes, mas isso não é querer demais, não é mesmo. E não falei de ser inteligente, bonito, interessante, que tenha uma voz altiva, educado, respeitador (não toda hora), elegante, maduro, acho que agora estou querendo de mais.
Eu só quero um amor, ter alguém que seja bom para mim e acho mesmo que isso não é querer demais. E o problema deve ser mesmo comigo, só pode ser isso (definitivamente eu não acredito nisso). Devo mesmo espantar todo mundo que chega perto de mim. Sabe por quê? Porque só aparece babaca na minha vida. Se não é adolescente com fantasia de ter mulher mais velha é um playboyzinho metido a gostoso exibindo seus músculos vantajosos como se aquilo fosse a única coisa boa que ele tem (e certamente deve ser porque eu não quero nem saber se tem mais alguma coisa). Não sou mulher de buscar homens musculosos, não quero saber de garotinhos que a única coisa interessante que me podem dizer é ‘legal, eu também gosto de espanhol’, que se danem os babacas que se aproximam de mim. E os que não são babacas? Claro porque também tem os que não são babacas, são os cafajestes. Esses ainda são piores, eles enganam (tentam) com tanta classe que parece que eu sou a única mulher na vida deles e sou. Pelo menos no momento em que estão comigo. É por eles que me interesso porque são os mais interessantes nesse universo que me cerca. Dizem o que eu quero ouvir do jeitinho que eu quero ouvir, mas pensam que me enganam com esse papo todo de eu-quero-te-levar-para-a-cama-mas-estou-arrumando-um-jeito-menos-grosseiro-de-fazer-isso. No fim da noite depois daquele belo jantar minha cabeça sempre dói e eles acabam sumindo porque não conseguiram a sobremesa principal da noite. E eu fico me perguntando ‘eu disse algo errado?’. Não, claro que eu não disse nada de errado, ou talvez dizer NÃO quando realmente se quer dizer não seja algo errado na cabeça oca desses caras.
Eu só quero ter alguém com quem dividir (não estou falando de contas mesmo que faça parte), mas dividir as alegrias, as tristezas, coisas boas e coisas nem tão boas assim. Ter pra quem ligar no meio da noite se estiver sem sono, ter para quem ligar se for assaltada (E sim, eu já fui assaltada e não, eu não tinha para quem ligar. Mesmo porque levaram o celular.), ter com quem está nos sábados à noite e nas tardes de domingo e olha que eu não me importo com os jogos no fim de semana ou com a cervejinha com os amigos, porque mesmo que tenha isso, vou ter de quem assistir a uma partida ou ligar para uma amiga dizendo que ele desmarcou um compromisso porque já tinha marcado com os amigos.
Talvez seja eu mesma querendo coisas demais, sonhando com amores impossíveis. Lembro que foi sempre assim desde criança, idealizando o primeiro beijo, ("porque ninguém dava nada por mim e quem dava eu não tava afim"). Talvez a culpa seja minha mesmo por não me permitir gostar de ninguém, não me permitir me entregar a paixões, mas paixões são tão vazias, tão rápidas, não dá mesmo tempo para eu me entregar a isso. E eu continuo aqui sozinha. Acordando no meio da noite sem ter para quem ligar e sem a menor ideia de como é amar e ser amada.
Ana Cris Nunes